Sempre que posso, leio os posts, comentários e perfis no Linkedin. Uma leitura preliminar mostra que muitas queixas estão relacionadas à elevação das exigências do mercado de trabalho e, consequente, redução de direitos e garantias, melhor observadas na recém aprovada reforma trabalhista.
As exigências do mercado vão desde a obtenção das melhores notas até fluência em idiomas. Exige-se que jovens (tempo de trabalho e não necessariamente idade) entrem “prontos”, sem o direito de errar, portanto, sem aprender com os que já integram o sistema. Situação que também pode produzir pessoas com algum grau de frustração.
Formação exige investimento de tempo e dinheiro. Outro dia falando com um profissional de aplicativo de transporte, contou-me que há um ano estava nessa atividade. Antes disso, mencionou ter trabalhado em restaurantes onde até ocupou o lugar de Chef. No tempo em que esteve empregado, realizou diversos cursos no SENAC e sempre buscou ampliar sua qualificação, inclusive com idiomas. Desde que o restaurante fechou tentou uma recolocação. Sem sucesso buscou outra atividade como motorista de aplicativo. Mas, será esse o destino dos jovens ou dos trabalhadores que estão buscando recolocação? O que pensam as empresas de contratações sobre as novas regras da reforma trabalhista? Os funcionários são o principal capital de uma empresa. Vale deixá-los inseguros quanto remuneração, saúde e instabilidade?
Sei que o caso do profissional de aplicativo, citado acima, não é representativo do universo de desemprego no país, mas sinaliza que o trabalho formal está sendo reduzido, aqui (gráfico na imagem do post) e no mundo, o que aumenta as exigências para quem busca ingresso, além de puxar para baixo os salários, apesar do atendimento das qualificações exigidas.
Segundo dados oficiais, são 1,7 milhões de jovens formados em nível médio, técnico e universitário que buscam ingresso todo ano no Brasil. Sabe-se que os avanços da indústria 4.0 estão reduzindo cada vez mais a participação de pessoas no processo produtivo. Isto é irreversível. Muitas funções estão e serão ocupadas por robôs. Processo que se iniciou na década de 80 no Brasil, tendo a automação bancária como marco, mas nos Estados Unidos iniciou ainda na década de 50, onde a indústria representava 50% do setor produtivo, e hoje está em torno de 5%. Ou seja, as tecnologias digitais deslocaram muitos trabalhadores da indústria para os serviços. Haja vista a crescente oferta destes por aplicativos (airbnb, uber, entre outros grandes negócios online). Ainda estamos medindo, prevendo e tentando minimizar o impacto social e econômico destas transformações. É um pouco “trocar o pneu com o carro em movimento”. Afinal, essa revolução é necessária, mas terá o custo social das anteriores, para mais e/ou para menos.
Dados, divulgados em 31/01 pelo IBGE/PNAD-C, mostram que trabalhadores SEM carteira assinada (11,1 milhões) e os “contra própria” (23,2 milhões) somam mais (34,3 milhões) que os trabalhadores COM carteira assinada (33,3 milhões). É nesse contexto de crescimento do trabalho informal e conta própria que no Brasil tem a maior taxa de desocupação desde 2012, conforme gráfico abaixo.
Pautei este tema buscando avaliar de forma humanista a problemática de qualificação necessária para uma sociedade em transformação. Não se pode concordar com o discurso da meritocracia que desconsidera as questões históricas e sociais no desenvolvimento de indivíduos. É um pensamento corrente que afirma serem os mais pobres os menos aptos. Daí os ricos terem evoluído. Sabe-se que tal narrativa busca muito mais eternizar a reprodução das desigualdades sociais e raciais presentes (e crescentes) do que algum critério cientifico de mensuração da inteligência e aptidão dos envolvidos. Desse modo, podemos pensar formas de incluir mais pessoas e avançar no processo em curso do que aprofundar o abismo social que atrasou em anos o desenvolvimento mais exitoso da sociedade brasileira. Como sermos competitivos se não há formação para áreas de inovação na perspectiva da sustentabilidade para gerações futuras? É uma pequena reflexão.
Link para relatório completo do IBGE: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/19756-pnad-continua-taxa-de-desocupacao-e-de-11-8-no-trimestre-encerrado-em-dezembro-e-a-media-de-2017-fecha-em-12-7.html