Historicamente mulheres que tentaram ou ocuparam o poder foram tachadas de “loucas”, “histéricas”, “burras”, “nervosas”, entre tantos adjetivos que ouvimos, sutil ou abertamente. No final do séc. XIX e início séc XX, se intensifica o discurso que desqualifica a mulher chamando-as de “histéricas”. Hoje, séc. XXI, tal discurso persiste através da pergunta “você está de TPM?” ou da afirmação “ela está de TPM”.
Importante sabermos que muitas mulheres assimilam tais falas como verdadeiras e se sentem despreparadas para assumirem funções. Outras que chegaram a altos escalões, tanto em empresas públicas quanto privadas, questionam a luta com pauta específica das mulheres. Mas, isso é um equívoco. Devemos nos unir para conquistá-las.
Outro dia assisti novamente o filme “As Sufragistas”. Fiquei pensado: quantas vezes terei que assistir para entender que chegamos até aqui pela luta, sofrimento e morte de muitas? Até quando assistiremos caladas os descalabros que acontecem com mulheres a nossa volta por que não queremos comprometer nossa imagem, posição, etc.? É mais que chegada a hora de não somente assumirmos o poder nos diferentes locais de trabalho, mas principalmente na esfera pública, mais especificamente, na política. Que atualmente no país está bastante crítica, seja pela polarização dos campos em disputa, seja pela crise institucional que atinge o Estado.
Há muito lutamos por um lugar social porque a sociedade foi determinando que o lugar público é para o masculino e o lugar privado é para o feminino. Isto é, os homens cuidando das coisas da política, economia e sociedade, e as mulheres cuidando, da família e afazeres domésticos.
No Brasil desde 1932, no governo de Getúlio Vargas, as mulheres conquistaram o direito de votar. Mesmo assim, nunca passamos de 11% no Câmara e Senado, mas, somos quase 52% da população. Quanto ainda teremos que lutar? Quanto luta ainda para termos o respeito dos partidos e políticos em geral? A legislação é clara: 70 e 30 de cotas de gênero. Mas, parece que as direções dos partidos determinaram 30% para mulheres e 70% para homens. E em todas as eleições os partidos correm atrás de preencherem as cotas de mulheres. Muitas compõem as listas de candidatos só para que partidos atendam às exigências eleitorais, e não por que tenham interesse na luta das mulheres.
Na questão de mercado de trabalho não é diferente. “Mesmo a maciça entrada de mulheres não significou a conquista da igualdade ou a eliminação das discriminações. Seus ganhos continuam menores que os dos homens e sua capacidade intelectual e competência profissional são questionadas o tempo todo”. (SESC SP: Mulheres em Profissão de Tradição Masculina: um breve estado da arte – 13/04/2018)
Segundo o Instituto Patrícia Galvão, no Brasil, “a feminização de profissões tradicionalmente masculinas decorreu, entre outros fatores da entrada maciça das mulheres nas universidades nos anos 1970, e da ampliação dos seus interesses para além do casamento e da família.
A sociedade tem que refletir a cerca de tais questões. Isso não é somente uma pauta feminista. O movimento “#MeToo” (http://www.hypeness.com.br/2017/10/metoo-mais-500-mil-mulheres-expoem-o-tamanho-do-abuso-e-do-assedio-no-mundo/), por exemplo, que denuncia o assédio sexual, teve grande repercussão nos EUA, gerando polêmicas na Europa e mundo a fora. Ele, entre outros, aponta uma tendência de que as mulheres não mais aceitarão a discriminação, o preconceito e o machismo, presente na sociedade, em diferentes graus dependendo do país, mas, em pleno século XXI.
Resumindo, no Brasil é tudo muito recente, portanto, a luta é constante para garantir direitos das mulheres. Mesmo na condição de CEOs, Fundadoras, Presidentes, Conselheiras, etc., há tentativas de “preservar às mulheres” retirando-as de decisões mais importantes.
A pesquisa Panorama Mulher, realizado pelo Insper, em parceria com a Talenses, publicada na Revista Época Negócios (10/2017), mostra que somente 8% das empresas brasileiras têm mulheres como presidentes e 17% como vice-presidentes. Nos conselhos, só 9% dos membros são mulheres. Mesmo em cargos de diretoria, apenas 21% são mulheres.
Coloco esse tema para refletirmos como mulheres, como empresas, como sociedade. Há muito que se fazer. E para colocar em prática o que diz o título deste artigo: “Queremos Ações e Não Palavras”, indico o filme “As Sufragistas”. Quem quiser pode ver o trailler: https://www.youtube.com/watch?v=e88IJJv7PLQ
Inocência Manoel – Fundadora INOAR Cosméticos