Mulheres que apedrejam mulheres

“Mas Tu, Senhor, és o escudo que me protege, és a minha glória, e me fazes andar de cabeça erguida.”

Salmos 3:3

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Este é com certeza um dos posts que eu não gostaria de escrever. Quando a gente tem uma trajetória da qual sente orgulho, fica difícil lembrar dos momentos ruins. Mas, ao mesmo tempo, é muito importante falar deles num mundo em que, cada vez mais, as pessoas não são aquilo que parecer ser.

Como muitos sabem, sou de uma família bastante simples e trabalhei grande parte da minha vida como cabeleireira. Com muito esforço consegui mudar o meu destino ao fundar, juntamente com meu filho, Alexandre, uma marca de cosméticos que hoje é mundialmente conhecida. E, com muita luta, venho mudando também o destino de outras pessoas ao fundar e investir no projeto social Beleza Solidária, de que tanto me orgulho (um pouco do nosso trabalho pode ser visto aqui), afinal, levo a sério os versos de Caetano: “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome.”

Por conhecer bastante de pessoas, por ter sempre fé que há mais corações dispostos a colocar em prática aquilo que pregam, é que me dói trazer aqui o tema de hoje. Talvez por ingenuidade minha, mas as minhas maiores dores não foram causadas pelos negócios, ou mesmo pela dificuldade de empreender e conciliar tantas atividades profissionais e pessoais. Minhas tragédias foram causadas por mulheres.

Mulheres que estavam ao meu lado, amigas, familiares. Mulheres que sentaram à minha mesa, que dividiram tantos momentos. Há também as que chegaram depois e que foram grandes predadoras da minha vida pessoal, querendo assassinar minha reputação como mulher, como mãe, como empresária. Coisas que eu não sei se teria coragem de contar. Mas a gente precisa mesmo é falar, porque assim criamos uma rede de mulheres que se ajudam e mudam de uma vez essa falta de empatia que podemos ter umas com as outras.

Sororidade.

Entre 2012 e 2017, a busca pela palavra “sororidade” aumentou 100% no Google e, em 2017, “o que é sororidade?” encerrou o ano em quinto lugar no ranking de pesquisa do site. O prefixo soror significa “irmã” em latim. E o caminho é por aí. Sororidade é a solidariedade entre as mulheres. É dar voz a uma amiga, a uma irmã. É andar com os sapatos dela, para saber quão árduo é seu caminho.

E temos muito a fazer neste sentido. “Enquanto os homens são capazes de machucar o meu corpo, as mulheres têm o poder de destruir a minha alma.” Assim começa o livro “Twisted Sisterwood” (da escritora americana Kelly Valen), um importante estudo que aponta que 90% das mulheres percebem “correntes de maldade e negatividade emanando de outras mulheres” de maneira frequente. Além disso, 85% afirmaram ter sido vítimas de grandes golpes, que mudaram suas vidas, de outras colegas. E mais: 75% disseram ter sofrido com o comportamento de amigas íntimas ciumentas e competitivas.

A apresentadora Oprah Winfrey comenta que o livro é “leitura obrigatória ao colocar o dedo na ferida de algo que tem sido escondido debaixo do tapete”.

Mas, por que isso acontece? São duas as teorias, e elas têm a ver com a própria história da humanidade. A psicologia da evolução explica esse comportamento por meio da seleção natural, pelo qual a mulher precisa se proteger do perigo físico que outra mulher poderia representar. Coisas dos tempos das cavernas.

Já outra tese, da psicologia feminista, atribuiu o comportamento à disputa das mulheres pelo homem. Num exemplo simplista, porque certamente há muito mais a ser discutido: competiríamos umas com as outras pelo melhor partido, por aquele que poderia nos proteger e engravidar – também remontando ao passado.

Madonna, cantora norte-americana já havia dito, quando Donald Trump venceu Hillary Clinton nas eleições presidenciais americanas: “As mulheres odeiam as mulheres. É nisto que acredito”, disse ela para a revista Billboard. “A natureza das mulheres é a de não apoiar outras mulheres. É realmente triste. Os homens se protegem entre eles e as mulheres protegem seus homens e os filhos”. “As mulheres olham para dentro (…). Muito tem a ver com ciúmes e algum tipo de incapacidade tribal para aceitar que alguém como elas possa dirigir uma nação”.

Num outro extremo, vale lembrar que a falta de empatia é um dos sintomas dos sociopatas e que os transtornos mentais estão aumentando consideravelmente na sociedade moderna. Nas redes sociais, por exemplo, você coloca um post e quando menos espera, há alguém que viu ali uma fagulha que nada tinha na ideia original. Mas pronto, passa a ser verdade. Reviram a sua vida em busca de uma “falha”. De uma vírgula que possa ser usada contra você. Sim, há mulheres fazendo isso.

A sociopatia é classificada como um transtorno de personalidade que é caracterizado por um egocentrismo exacerbado, que leva a uma desconsideração em relação aos sentimentos e opiniões dos outros. E para  muitas mulheres existirem, é necessário “matar” a outra, que a incomoda. Por meio de difamação, de desmoralização, rompendo laços que nunca mais serão resgatados.

Da minha parte, um testemunho: sofri discriminação por parte dos homens, mas não na mesma intensidade e nível de perversidade que as mulheres têm. Mulheres podem ser mais machistas que os homens e o que me faz seguir em frente, quando entendo que ao meu lado talvez não tenha aquela figura feminina que a gente idealiza ao longo da vida, é a minha fé.

Essa é inabalável, é o meu sagrado feminino dizendo que não, nunca estarei sozinha.

Inocência Manoel

4 comentários em “Mulheres que apedrejam mulheres

  1. Excelente reflexão!
    Infelizmente há muitas mulheres que odeiam ver o.sucesso das outras!
    Acredito que só com muita doutrinação comportamental podemos mudar esta situação, desde pequenas, em casa e nas escolas. Quando um.casamento ou a maternidade não forem o apsi de vida! Ai talvez possamos ser menos competitivas.

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  2. Nossa , Ino ! Profunda reflexão ! Como tudo que voce faz , nào deixando nenhuma ponta de fora ! Parabens , é triste , mas muito verdadeiro ! Bjs 🙆‍♀️🧕🏽💃🏼

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