Sem censura

Aparentemente, meu blog é o único lugar em que posso ser eu mesma. Aqui posso dizer o que faço, no que acredito, quais são meus planos, quais foram as estradas percorridas.

Porque, em todo o resto, preciso ficar calada.

Mas chega. É preciso urgentemente virar esta chave e ter a coragem de denunciar o que acontece nos bastidores da vida de uma mulher de negócios.

O mercado de cosméticos, como vocês sabem, é um dos que mais crescem no mundo. E dados do censo americano apontam que, no mundo do consumo, uma mulher pode valer por dez homens. Isso porque as consumidoras mulheres decidem 85% das escolhas de consumo, um número que se torna ainda mais expressivo quando se trata de produtos para beleza.

A participação de mulheres nesta indústria é tão fundamental que chega a ser um paradoxo ter mais homens liderando um setor essencialmente voltado para nós, mulheres.

Não é a toa que as empresas que conseguem investir em políticas de igualdade de gênero e diversidade apresentam melhores resultados, inclusive na sua rentabilidade. Essas informações estão no relatório Women in Business and Management: The Business Case for Change (‘Mulheres nos negócios e na gerência: por que mudar é importante para os negócios), divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão pertencente à ONU.

O relatório analisou mais de 70 mil empresas em 13 diferentes países. E por que ainda é preciso falar sozinha disso?  Esses dados se repetem em diversos países e não têm sido suficientes para mudar a dura realidade de que na nossa indústria, e até mesmo na empresa que eu criei, a maioria dos cargos de liderança ainda siga ocupada por… homens.

Eu acredito na igualdade de gênero: 50% vs. 50%. Porém estamos longe desta realidade e pior: enquanto não chegamos lá precisamos conviver com o machismo enraizado na sociedade e comandando os nossos negócios. Apenas 16% dos postos de alta direção são ocupados por mulheres no Brasil.

Além de ser uma minoria na gestão, também é das mulheres o número maior do desemprego. Para se ter uma ideia, um estudo conjunto das universidades de Mississipi, Alabama, Memphis e Missouri (EUA), publicado no Journal of Management, conclui que as mulheres são as mais vulneráveis nos cargos de alta liderança: elas enfrentam risco de demissão 45% maior que homens.

Sem papas na língua, eu abro aqui para vocês como é difícil ser afrontada diariamente dentro da minha própria empresa. A tão debatida ideia de estarmos em pé de igualdade está muito longe de ser real.

Os desafios constantes que enfrentamos variam. Se somos firmes, estamos erradas. Se somos maleáveis, nos chamam de fracas. Tudo o que é visto em um homem como uma grande qualidade profissional, para nós, vira desqualificação. A todo tempo, nossa imagem está em teste.

Um exemplo que tem me inspirado nestes dias de reflexão é o de Madam C. J. Walker que ganhou uma série na Netflix (Link).

Sarah C. J. Walker foi a primeira filha livre de um casal de escravos e teve uma vida bastante sofrida: ficou órfã aos 7 anos de idade, casou-se aos 14 anos de idade, ficou viúva aos 20 e trabalhou na colheita de algodão e como lavadeira para sobreviver, sempre vítima da opressão e dos resquícios da escravidão. Com tantas dificuldades enfrentadas, seu cabelo começou a cair, o que a impulsionou a pesquisar e criar produtos especiais para cabelos afros, que se tornam sucesso na mão de uma empreendedora nata.

Madam C. J. Walker criou um império milionário, não somente com venda de cosméticos, mas sua empresa treinou mais de 20 mil mulheres, que se tornaram bem conhecidas na comunidade negra dos Estados Unidos, além do lado ativista, engajado com a comunidade negra feminina e filantrópico.

O machismo e o preconceito são latentes na série. Em uma cena em que Sarah vai apresentar suas ideias para um grupo de investidores, todos os homens se dirigem ao seu marido. Madam C. J. Walker diz que o projeto é dela, mas que o marido a auxilia. Neste instante, os investidores dizem: “agora sabemos quem veste as calças” (num tom de deboche, para aquela época).

O machismo é tão enraizado que muitos não percebem quando ele acontece. Tendo as mesmas competências, as mesmas responsabilidades, as pessoas procuram os homens para se reportar. O que posso dizer é que visto as calças desde sempre. E mesmo assim não posso me expor. Não posso dizer o que faço pela empresa, enfrento situações extremamente desgastantes e preciso gritar QUEM SOU EU para ser ouvida.

Mas isso vai mudar. Estou só começando. E quero ouvir você:

Quais os problemas que você enfrenta por ser mulher no seu trabalho?

Inocência Manoel

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Um comentário em “Sem censura

  1. Sou Ligia Profissional Do Embelezamento moro em São paulo tenho 35 anos . Sou canceriana e empreendedora neste mundo onde infelizmente o machismo e preconceito que vem de dentro de nossa casa . De nossas Família , pais que não apoiam suas filhas em seus sonhos . Maridos que desencorajam suas esposas há crescerem profissionalmente por medo ? Por preconceito? Por vaidade ? Em um mundo cooporporativo onde a mulher ja tem uma desigualdade pelo simples fato de ser do sexo feminino . Queremos voz queremos espaço somos capazes . Isso não interfere meu sexo feminino .

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