
A menopausa é um período que faz parte do processo natural de amadurecimento do corpo feminino e que transforma a vida da mulher em diferentes aspectos, inclusive em sua atuação no mercado de trabalho.
Enquanto algumas mulheres sentem sintomas leves e moderados, outras vivem os efeitos da queda hormonal diariamente, com ondas de calor intensas e constantes, insônia, oscilações no humor e dificuldades para memorização, impactando a vida da mulher como um todo. Junto a isso, vem a cobrança enraizada da sociedade para que a mulher esteja sempre bonita, produtiva e feliz.
De acordo com Helena Hachul de Campos, pesquisadora do Instituto do Sono, “uma das primeiras manifestações é a presença de ondas de calor, os fogachos, que podem vir seguidos de sudorese. Os fogachos acometem cerca de 70% das mulheres, ocorrendo em frequência e intensidade variáveis”, explica, e grande parte desses episódios ocorrem durante a jornada de trabalho, promovendo situações de desconforto diante dos colegas.
A pesquisadora fala também sobre a dificuldade para descansar, mesmo após um dia exaustivo, “algumas mulheres relatam sono interrompido por essas ondas de calor, uma alternância de calor e frio. Outras despertam antes ainda da onda de calor emergir. É bastante frequente essa associação de despertares noturnos e fogachos, e é um sinal comum da relação entre menopausa e sono”, revela Helena.
Porém, o desgaste provocado pelo acúmulo de noites sem dormir afeta diretamente a rotina corporativa, impactando na capacidade de concentração durante as atividades e gerando incertezas em muitas mulheres que fazem parte de corporações onde o assunto ainda não é discutido ou que buscam sua recolocação no mercado.
Dados de pesquisa realizada pelo grupo de assistência médica Bupa e de recursos humanos Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), disponibilizados pelo portal The Guardian, mostraram que 59% das profissionais com idade entre 45 e 55 anos, relataram que a menopausa impactou negativamente suas atividades no trabalho, devido aos sintomas de capacidade reduzida de concentração e por se sentirem mais estressadas e menos pacientes com clientes e colegas.
Por essa razão, falar abertamente sobre o assunto é fundamental para a construção de ambientes corporativos mais inclusivos. Apesar de ainda não ser uma prática comum, muitas empresas que entendem a importância de quebrar as barreiras do preconceito que envolvem o tema menopausa, vem adotando políticas internas, que estimulam a troca de informações por meio de grupos de discussão e políticas internas.
Liv Garfield, CEO da empresa britânica de água Severn Trent, destaca a importância de acabar com o estigma criado em torno de algo tão natural, “não empregar grandes números de mulheres de 45 a 60 anos precisa ser visto como um problema real — caso contrário, perde-se todo o conhecimento daquela geração específica”, afirma. A Severn Trent faz parte do grupo de organizações que adotaram medidas internas como jornadas de trabalhos flexíveis e meios de ventilação mais acessíveis no local.
Ainda há um longo caminho a percorrer contra o preconceito, mas a ideia de que aos 50 anos a vida estaria chegando ao fim ficou no passado. Hoje, sabemos que com informação e tratamento adequado, as mulheres podem vivenciar a menopausa com muito mais leveza, vitalidade e sem abrir mão de sua autoconfiança, independência financeira e qualidade de vida.