É indiscutível que o preconceito em relação à idade é um problema grave em nossa sociedade e tenho falado muito sobre o assunto nos meus canais.
O etarismo é uma forma de discriminação baseada na idade, que envolve a prática de estereotipar e discriminar pessoas com base na sua idade ou supor que a idade é um fator determinante para a capacidade, personalidade ou habilidade de uma pessoa. A discriminação contra os mais velhos, em nossa sociedade, infelizmente, é a mais comum. O etarismo se manifesta em vários contextos, incluindo o trabalho, a mídia, a publicidade, a cultura popular e a vida cotidiana. Infelizmente, a indústria da beleza pode ser especialmente afetada por estereótipos de idade e beleza.
Como um reflexo da sociedade em que vivemos, as pessoas mais velhas estão sendo marginalizadas e tratadas de forma discriminatória, sendo relegadas a um papel secundário no mercado de trabalho. Infelizmente, o Brasil tem o hábito de não valorizar seus mestres e profissionais mais experientes, como é o caso dos renomados cabeleireiros Wilma Ribas e Mario Merlino, que fizeram história no nosso setor, como já contei aqui nesta coluna *Cancelamento da Maturidade!*.
Os verdadeiros mestres da indústria da beleza são esquecidos e deixados de lado, enquanto a mídia e a sociedade em geral prestam atenção apenas nos jovens e famosos influenciadores digitais. É importante lembrar que esses grandes profissionais são os verdadeiros mestres e professores da área da beleza. Eles contribuíram para o desenvolvimento da indústria, ajudaram a formar novos talentos e influenciaram toda uma geração de cabeleireiros e maquiadores. É fundamental que essas pessoas sejam lembradas e homenageadas pela sua contribuição, tanto para a indústria da beleza quanto para a cultura brasileira como um todo.
Mas onde estão as homenagens?
Eu sempre defendi a ideia de que a maturidade e a experiência podem trazer muitos benefícios para a indústria da beleza. Profissionais mais velhos têm um conhecimento e uma habilidade acumulados ao longo dos anos, que podem ser muito valiosos para o setor.
Além disso, vivemos em uma cultura que valoriza excessivamente a juventude e a beleza estereotipada, o que pode gerar uma pressão ainda maior sobre esses profissionais. Ainda que a idade seja uma característica natural e inevitável, muitas vezes é vista como um obstáculo para aqueles que trabalham com beleza. E só temos uma saída para fugir dessa pressão: mudando esta história.
Eu estou no auge, numa de minhas fases mais atuantes e criativas. É por isso que vejo o etarismo como uma regressão. Sobre como se nós, em vez de olhar para a frente, estivéssemos andando para trás.
O etarismo é uma regressão, pois coloca a idade como critério de valorização da pessoa, ignorando todo o seu potencial e experiência acumulada ao longo da vida.
A beleza não tem idade, e os profissionais mais experientes podem oferecer serviços de qualidade e excelência. É preciso valorizar a experiência e habilidade desses profissionais, tal qual se valoriza um grande mestre, porque é com eles, afinal, que aprendemos.
Além das questões de preconceito e discriminação, é importante destacar que as pessoas mais velhas representam um mercado cada vez mais importante para a indústria da beleza e de outros setores da economia. Segundo a Goldman Sachs, o consumo das pessoas mais velhas cresceu três vezes mais rápido na última década do que o das gerações mais jovens. E de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), até 2040, metade da força de trabalho no Brasil terá mais de 50 anos.
Essa faixa etária também representa uma força financeira significativa. No entanto, apesar dessa importância, o mercado ainda encontra dificuldades na forma de se comunicar com o público sênior. Um estudo super interessante, conduzido pela Hype60+, consultoria com foco em consumidores maduros, mostra que 63% dos negócios ainda são focados nos millennials (nascidos entre 1981 e 1995). E que são os mais velhos com mais potencial de compra. Isso indica que há uma grande oportunidade de mercado para as empresas que souberem se comunicar com as pessoas mais velhas e atender suas demandas e necessidades.
É preciso que a indústria da beleza e outros setores da economia estejam atentos a essa tendência e comecem a investir em estratégias de marketing e comunicação voltadas para o público sênior. É fundamental que as empresas reconheçam a importância e o potencial desse mercado, criem produtos e serviços que atendam às suas necessidades e desejos e que invistam em profissionais maduros também.
Mas não é somente mercado. Preciso falar do intangível também. E lembro a todos os leitores desta coluna que a beleza é uma questão subjetiva e que varia de pessoa para pessoa. Nós, como profissionais da indústria da beleza temos que valorizar as pessoas mais velhas pela sua maturidade e experiência, e não pelos filtros da juventude do Instagram. É preciso promover uma cultura de aceitação e valorização da diversidade de corpos, rostos e cabelos, e criar opções de produtos e serviços que atendam a todas as idades.
E como combater o etarismo, se até a Ciência mostra que os mais bonitos são favorecidos mesmo em áreas que nada têm a ver com a aparência, como dar aulas, praticar esportes e até ser absolvidos em crimes? Levantamentos mostram que pessoas mais bonitas têm menores chances de serem pegas em um crime. Um estudo da Universidade da Carolina do Norte afirma que homens dão pena de 12 meses para mulheres consideradas “bonitas”, condenadas por roubar US$ 10 mil, em julgamentos simulados. Criminosas consideradas “feias” pegam 18 meses e meio.
Nós precisamos furar a bolha do padrão estético e valorizar a diversidade em todas as suas formas. A beleza pode ser encontrada em uma variedade de estilos, culturas e idades, e é importante que a indústria da beleza comece a refletir essa realidade. A inclusão de modelos de diferentes idades, etnias e corpos é fundamental para combater o preconceito em relação à idade no mercado da beleza.
Para resolver as questões de preconceito em relação à idade no mercado da beleza, é preciso uma mudança de mentalidade e de abordagem por parte das empresas e profissionais do setor. É importante entender que a beleza não é exclusividade da juventude.
É importante ressaltar que a indústria da beleza também é marcada pelo preconceito e desigualdade de gênero. Apesar de ser uma indústria essencialmente feminina, ela é comandada majoritariamente por homens. Os cabeleireiros mais famosos do mundo são homens e as mulheres precisam trabalhar o dobro para conseguir a metade do reconhecimento.
Além disso, os profissionais da beleza enfrentam uma rotina exaustiva e pouco valorizada. Eles ficam de pé o dia todo, enfrentando incertezas, sem plano de carreira ou benefícios. A realidade de quem corta o cabelo é muito diferente da realidade de quem está na cadeira do salão de beleza.
Se a gente não repensar nossas práticas e valores, e promover mudanças significativas em relação à igualdade de gênero e valorização dos profissionais da área, é o futuro desta geração que estará em jogo.
O respeito à diversidade e à beleza em todas as suas formas deve ser a base dessa transformação, que não apenas combaterá o preconceito, mas também trará benefícios para toda a sociedade.
Quando eu era proprietária de um salão de beleza, percebi que o preconceito e a desvalorização dos profissionais era uma realidade. Por isso, decidi adotar uma postura diferente e oferecer um ambiente de trabalho justo e acolhedor para os meus funcionários. Pagava salários acima da média do mercado e oferecia oportunidades de capacitação e crescimento dentro da empresa.
Acredito que essa postura não só melhorou a qualidade de vida dos meus funcionários, como também se refletiu na qualidade do atendimento prestado aos clientes. Funcionários valorizados e motivados tendem a se dedicar mais e oferecer um serviço de melhor qualidade, o que resulta em um ambiente mais agradável e satisfação do cliente.
Infelizmente, ainda há muitos salões de beleza que não valorizam seus profissionais e perpetuam o preconceito e a desigualdade de gênero na indústria. Sou testemunha de vários locais onde isso acontece. É preciso mudar essa realidade e buscar formas de oferecer um ambiente de trabalho justo e acolhedor para todos os profissionais da beleza, independente do gênero, idade ou etnia.
É fundamental discutir a necessidade de promover uma cultura de aceitação e valorização da diversidade. A pressão para seguir padrões inatingíveis de beleza pode ser prejudicial para a autoestima e saúde mental das pessoas.
Isso porque a beleza não é um conceito absoluto, mas sim um conceito relativo que varia de acordo com as diferentes culturas e contextos sociais. Portanto, ao ampliar o horizonte cultural e de conhecimento, é possível desenvolver um olhar mais apurado e sensível para a beleza em todas as suas formas. Faça este exercício!
Quando você ampliar o horizonte cultural e de conhecimento irá entender que a beleza não se limita apenas à aparência física, mas também está relacionada a outras qualidades, como a personalidade, o caráter e as qualidades internas de cada indivíduo. Portanto, é essencial desenvolver um olhar mais sensível e apurado para a beleza em todas as suas formas, a fim de combater o preconceito em relação à idade e valorizar a diversidade em todos os seus aspectos.
Inocência Manoel
