Tenho aqui buscado contribuir com o debate a cerca do mercado de trabalho, relações de trabalho, além de contar um pedacinho da experiência cotidiana de dirigir uma empresa. Porém, hoje escrevo sobre o tema “privilégios” porque de fato não é fácil empreender num país como o Brasil e ao mesmo tempo assistir ao show de benesses para os poderes constituídos.
A quase totalidade dos trabalhadores no país receberá a partir de janeiro de 2018 o valor de R$ 954,00. Aumento de 1,81% em relação ao salário mínimo de R$ 937,00 em 2017, onde um trabalhador médio teve renda mensal estimada em R$ 2.480,00, segundo o CINE. Nos grandes centros urbanos tais trabalhadores chegam a gastar 3h em deslocamentos para chegarem ao trabalho, enfrentando ônibus e metrôs lotados. É uma situação lamentável para quem paga aluguel, tem que colocar, dividindo ou não com cônjuge, a comida na mesa para família, e garantir minimamente as condições de educação dos filhos. Comparamos agora com os supersalários pagos a uma elite da burocracia no Estado.
Autoridades do Judiciário, Legislativo, Ministério Público e Tribunal de Contas têm uma série de benefícios que somados ficam bem acima do teto salarial do serviço público em todo o país. Benefícios como “auxilio moradia”, mesmo a grande maioria tendo lugar para morar, auxílio saúde correspondente a 10% do vencimento (pagos aos Magistrados, MPF e TCE), licença remunerada para estudar no exterior, auxílio livro, auxílio alimentação, carro oficial, e para não ficar cansado de todos esses benefícios têm mais 60 dias de férias por ano.
Os deputados federais com salários, referência em 2017, R$ 33.763,00 (mais bem pagos do mundo), mais auxílio moradia e imóvel funcional, cota para exercício de atividade parlamentar, verba para contratar pessoal, despesas com saúde e férias (ou recesso) duas vezes por ano. Nem vou citar os deputados estaduais e vereadores porque teria que fazer as variações por Estados e tamanho de municípios.
Resumindo: como sustentamos todos estes privilégios a um Judiciário que pratica uma justiça de classe no Brasil? Basta ver o perfil dos presos: jovens, negros, pobres e mulheres lotam cadeias em condições sub-humanas. Como sustentamos um Congresso que não faz leis que beneficiem a população? Basta fazer o levantamento para ver o percentual de projetos sociais em detrimento de projetos que atendem o mercado, mais especificamente aqueles grandes negócios que financiaram as campanhas de muitos.
Aqui não se está falando da grande maioria de funcionários públicos com rendimentos dentro da média de trabalhadores. Estamos falando de uma casta de marajás mantida por força de lei. Ou seja, legislam e julgam em benefício próprio. E totalmente fora da realidade do país. Nem um empresário, que muitas vezes trabalha mais de 14h por dia para manter seu negócio, têm tais privilégios. E são os empresários sérios, que geram emprego e renda, não sonegam que pagam muito imposto e tributos para manter este Estado.
Segundo estudo do Banco Mundial, ao final do ano passado, a média da diferença entre salários do setor público e do setor privado foi de 67% a mais. Enquanto na média internacional o setor público paga 16% a mais.
O Brasil tem uma das maiores desigualdades do mundo. Segundo a PNAD Contínua, divulgada pelo IBGE em novembro de 2017, metade da população brasileira viveu com menos de 1 (um) salário mínimo em 2016, chegando a um rendimento médio de R$ 747,00, quando o salário a época era de R$ 880,00. Vale a pena analisar o relatório completo.
O quanto pagamos para não ter direitos? Até quando ficaremos calados diante de tais situações? Até quando veremos injustiças serem cometidas em nome de uma pretensa moral que há muito coaduna com a corrupção, mas que agora demoniza quem justamente começou a investigá-la? O debate da corrupção, não pode ofuscar os privilégios das elites no poder judiciário, político e midiático no país. Até quando assistiremos o rebaixamento do Brasil nas notas de Agenciais Investidoras devido à política entreguista do atual governo? Até quando leremos notícias como se fossem capítulos de novelas ao invés de compreender que essa é a vida real e que a situação é grave? Temos que começar a refletir seriamente, sob pena de continuarmos atônitos na frente da TV, assistindo a um jornalismo tendencioso, que denuncia somente quem os critica, ao invés de ser isento e denunciar todos os privilégios, inclusive o das concessões de canais de TV e Rádio, de concentram cada vez mais os meios de comunicação na mão de meia dúzia de famílias.
INOCÊNCIA MANOEL – Fundadora da INOAR