
A cena é clássica: a mulher começa a apresentar um projeto e, antes que consiga finalizar seus argumentos, os homens presentes na sala começam a interromper, tentam tomar a sua voz ou resolvem concluir a apresentação, como se ela não fosse capaz de terminar.
A interrupção da fala ganhou em inglês o nome de “manterrupting”, assim como o “mansplaning” é quando ouvimos do homem explicações óbvias de um assunto que você domina.
Termos novos para situações que sempre ocorreram, esses comportamentos machistas muitas vezes passam despercebidos e são recorrentes também em relacionamentos abusivos.
Chamadas de “silenciosas”, as violências psicológicas, morais e patriarcais trazem prejuízos profundos a suas vítimas. Dano emocional, diminuição da autoestima ou controle de ações por meio de ameaças, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância, insulto, perseguição e limitação do direito de ir e vir também são violências que não podem ser ignoradas.
É certo que cerca de 41% dos casos de violência acontecem dentro de casa. Além disso, 3 em cada 5 mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão violência em um relacionamento afetivo. Porém as relações tóxicas acontecem também entre amigos ou no trabalho.
O termo workplace mistreatment vem sendo utilizado para englobar uma série de comportamentos abusivos no trabalho, entre eles o social undermining, aquela situação em que um profissional desmoraliza seu colega; o bulliyng, caracterizado por humilhações repetidas; e os diversos tipos de conflito interpessoal em ambientes muito competitivos.
Alguma coisa parece estar mudando, mas o caminho ainda é longo. Em 2018, o movimento #MeToo escancarou o problema e empresas gigantes, como a consultoria Deloitte, demitiram colaboradores por comportamento inapropriado.
No artigo publicado no site The Conversation , o professor e pesquisador Daniel G. Saunders, da Universidade de Michigan, traz à tona a dificuldade de sair de um relacionamento abusivo.
Desde as dificuldades financeiras, até o medo de ninguém acreditar na situação, são vários os motivos que as pessoas têm para permanecer em um relacionamento tóxico. Por vezes, o maior inimigo é a própria autoconfiança da vítima, que não acredita ser possível viver sem o opressor.
Em todos os casos, para sair dessas relações, é necessário ajuda. Tanto de apoio especializado quanto de amigos e familiares que reforcem os laços sociais sadios.
No ambiente profissional, cada vez mais acredito num modelo de gestão mais colaborativo. O tempo da imposição por meio da força acabou – já vai tarde. É preciso livrar as pessoas dos opressores e, como empresária, tenho estado cada dia mais atenta para as mudanças essenciais que transformam as relações – para que sejam mais humanas, justas e saudáveis.